A minha Mãe Britânica Lembranças de Georgetown
Capítulo I
Era a caçula de três irmãs. A mais velha, Elvira, detestava o próprio nome. Um belo dia se apropriou do nome Mary e deu o nome de Maisie para a Mary; então a Elvira passou a se chamar Mary e a Mary Maisie. Tudo bem resolvido.
Mamãe Celeste, apesar de descendente de portugueses, só falava inglês e também francês. Papai Francis falava português de Portugal e inglês.
A casa onde moravam era imensa. Ainda mais para uma criança pequena.
A mesa de jantar dava para dezoito pessoas ou mais.
A casa era palafita. Para evitar a maré cheia, já que Georgetown está abaixo do nível do mar.
Depois do banho, Babi, a babá, costumava vestir Maisie com vestidos muito bonitos, cheio de laços, fitas e rendas. Mas a menina corria a se esconder por baixo da casa para brincar na areia e voltava sempre suja. Aí era banho de novo e para que sossegasse era amarrada a uma cadeirinha.
Maisie era linda, parecia uma boneca, narizinho arrebitado, olhos castanho escuros e cabelos escuros levemente ondulados nas pontas. Falando nisso, ela não gostava nem um pouco das bonecas de louça das irmãs. Na escada entre o andar térreo e o superior havia um pequeno hall e nele uma casa de bonecas tão grande que elas brincavam dentro. Era mobiliada e as meninas se divertiam por muito tempo por ali. Menos ela que arrancava a cabeça e os olhinhos de vidro das pobrezinhas quando não havia ninguém por perto.
A avó Maria tinha na despensa dezenas de bolos que iam sendo comidos durante o mês e Maisie comia muitos quando ficava de castigo lá por mau comportamento.
O avô Eduardo estava gagá. O velho morreu com cento e quatro ou cento e seis anos de idade. Costumava urinar nas plantas do jardim. Espantava a criançada estalando com toda a força um lenço molhado e bem torcido nas pernas de quem se aproximasse.
Era português, diziam que era nobre e que lecionou na Universidade de Coimbra. Era geógrafo, fazia mapas, era matemático. Estava sempre muito bem trajado e usava luvas brancas para cumprimentar as pessoas. Monárquico, teve que fugir de Portugal quando foi proclamada a república em 1910. Existem algumas publicações dele na Biblioteca Nacional Portuguesa. Era sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa.
Em Georgetown fundou e dirigiu o Portuguese College onde os alunos aprendiam em português e em inglês e foi uma escola profissionalizante. Mas esses detalhes a minha mãe não tinha conhecimento por ser muito pequena ainda.
muito bom sim
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