sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A minha Mãe Britânica                                        Lembranças de Georgetown

Capítulo I

Nasceu em 1927, no Public Hospital, em Georgetown, Guiana Inglesa, uma menina chamada Mary Clothilde. Viveu lá até os cinco anos de idade quando se mudou com a família para o Brasil.  

Era a caçula de três irmãs. A mais velha, Elvira, detestava o próprio nome. Um belo dia se apropriou do nome Mary e deu o nome de Maisie para a Mary; então a Elvira passou a se chamar Mary e a Mary Maisie. Tudo bem resolvido.

Mamãe Celeste, apesar de descendente de portugueses, só falava inglês e também francês. Papai Francis falava português de Portugal e inglês.

A casa onde moravam era imensa. Ainda mais para uma criança pequena. 
A mesa de jantar dava para dezoito pessoas ou mais.

A casa era palafita. Para evitar a maré cheia,  já que Georgetown está abaixo do nível do mar.

Depois do banho, Babi, a babá, costumava vestir Maisie com vestidos muito bonitos, cheio de laços, fitas e rendas. Mas a menina corria a se esconder por baixo da casa para brincar na areia e voltava sempre suja. Aí era banho de novo e para que sossegasse era amarrada a uma cadeirinha.

Maisie era linda, parecia uma boneca, narizinho arrebitado, olhos castanho escuros e cabelos escuros levemente ondulados nas pontas. Falando nisso, ela não gostava nem um pouco das bonecas de louça das irmãs. Na escada entre o andar térreo e o superior havia um pequeno hall e nele uma casa de bonecas tão grande que elas brincavam dentro. Era mobiliada e as meninas se divertiam por muito tempo por ali. Menos ela que arrancava a cabeça e os olhinhos de vidro das pobrezinhas quando não havia ninguém por perto.

A avó Maria tinha na despensa dezenas de bolos que iam sendo comidos durante o mês e Maisie comia muitos quando ficava de castigo lá por mau comportamento. 

O avô Eduardo estava gagá. O velho morreu com cento e quatro ou cento e seis anos de idade. Costumava urinar nas plantas do jardim. Espantava a criançada estalando com toda a força um lenço molhado e bem torcido nas pernas de quem se aproximasse. 
Era português, diziam que era nobre e que lecionou na Universidade de Coimbra. Era geógrafo, fazia mapas, era matemático. Estava sempre muito bem trajado e usava luvas brancas para cumprimentar as pessoas. Monárquico, teve que fugir de Portugal quando foi proclamada a república em 1910. Existem algumas publicações dele na Biblioteca Nacional Portuguesa. Era sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa. 
Em Georgetown fundou e dirigiu o Portuguese College onde os alunos aprendiam em português e em inglês e foi uma escola profissionalizante. Mas esses detalhes a minha mãe não tinha conhecimento por ser muito pequena ainda.








Um comentário: