quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Brincadeira de criança pequena

Paixão

Nem sabia que se chamava paixão mas já estava apaixonada. Não o menino inteiro, mas seus joelhos. A cara dele, o resto do corpo, o nome, totalmente ignorados. Só haviam os joelhos.


Beleza

Nossa empregada espanhola Carmen. Ela se penteava ao espelho  da penteadeira que havia perto do lavabo. Isso acontecia todos os dias antes dela sair para voltar para casa. Não sei o que era mais bonito, se o móvel com a saia de tecido claro e estampa verde e floral ou os  cabelos mais longos que eu já tinha visto na vida.

Arte

O número de equilibrismo do prato na vareta sem deixar cair.

Jogar 3 laranjas para o alto e pegar sem deixar cair.

Andar de salto alto da mamãe sem cair.





segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nossa Senhora das Angústias

Nossa Senhora das Graças

Ave Maria, cheia de Graça, o Senhor é convosco.
Rogai por nós.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

El Diablo e o Cavaleiro


Cuidado você que joga Diablo e outros games de guerra em rede. Cuidado você, Guerreiro Virtual. O tema é sempre a Guerra entre o Bem e o Mal. E essa luta se eterniza no tempo gasto em frente à tela do computador, um espaço pequeno para  tantas e tão grandes batalhas.
Você, cujo nome significa "Cavaleiro Alto e Forte", é  um verdadeiro e nobre soldado e é por isso que ama o que faz. 
Cuidado, Soldado Perfeito, não fique só no virtual, vá para o real.
Desligue um pouco o aparelho, saia de casa, encontre a vida fora do mundo cibernético, seja  livre como esse índio, livre.
A Mãe Natureza, aquela que sem ela nada somos, nos dá tudo, desde o alimento até o abrigo. Ela oferece florestas para desbravar, rios, mares e cachoeiras, montanhas para subir e ver mais longe, o Sol para a luz e o  calor, a Lua para o descanso e o amor. 
Há muitas batalhas aqui fora, e o Bem real  está precisando vencer o Mal real de uma vez por todas. Já imagino a Vida só  no Bem, que delícia elevada à máxima potência! 
Seja Feliz!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Rubi

Senhora Ladrona, devolva os meus rubis. Estavam em forma de uvas naquele par de brincos de ouro. Minha mãe usava sempre mas iam ser meus quando eu ficasse adulta ou casasse e agora, nada de brincos, roubados pela falsa empregada. Acho que por isso hoje ainda sou fascinada por essa cor maravilhosa para os olhos e tão cheia de significados para a alma. 



iPhones x iFilhos x Dinossaura A.C.

Dois vieram me visitar e o terceiro ficou em casa, com o pai deles, nos arredores de São Paulo.
Mas, vou te contar, nunca se comunicaram tanto entre si e entre o resto do mundo quanto com essa maravilha tecnológica chamada iPhone, computador de mão.
 E olha que estavam juntos há apenas algumas horas da pequena viagem até a minha casa aqui em Santos. Até o pai mandou mensagens de voz sem nenhum assunto. 
Só eu fiquei de fora da comunicação, o meu celular não é assim um iPhone. 
O meu computador de mesa, já  totalmente ultrapassado?
O roteador faz a engenhoca funcionar sem fio, outro luxo tecnológico.
Cada novidade internética surgida me remete à minha verdadeira idade, a era A.C. Não é antes de Cristo não, é Antes de Computador. Também, quem mandou eu nascer no longínquo finalzinho da primeira metade do século 20!
Agora eu tenho iFilhos ou será iPhilhos?
Me lembrei de quando eram crianças no dia de Natal. 
Absolutamente felizes.
Ocupados em rasgar o papel do presente e retirar da caixa o brinquedo, montar e brincar com o tesouro novo, mostrar para os outros, e achar que o deles é o mais bonito, o melhor de todos, o que faz mais feliz. 
Eu sei que eles não prestaram mais atenção ao resto do mundo enquanto "brincavam" mas depois eu entendi. Felicidade sempre ocupa todo o espaço e o tempo mesmo e é ótimo que assim o seja.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Café


Crianças não podiam beber café depois do jantar, era muito estimulante, dava insônia. Ordem dos adultos.
 Já papai era a favor da liberdade, ou melhor, tinha coração mole. Me oferecia então uma  e somente uma colher de café. Aquela   colherinha de prata, tão pequena, continha o melhor sabor, a melhor quentura, o melhor perfume e a cor de âmbar avermelhado mais perfeita que alguém pudesse beber, sentir , cheirar e ver. Perfeição de café. Gente, não existe felicidade maior do que terminar um jantar no qual duas pessoas que se amam dividem felizes o mesmo amado cafezinho.

Fazenda de café

Não conheci a fazenda do meu pai. Não tenho nenhuma fotografia de lá. Só sei que ele desbravou a mata virgem para formação do cultivo de café. Acho que em Getulina, SP,  ou Maringá ou seria em Floraí,
Paraná?
Mas sei que o importante pintor Manabu Mabe quando jovem morou com os pais por lá. Eram agricultores. Mabe não gostava de trabalhar no campo, só de desenhar e pintar. Olhando por acaso o site do artista me deparei com uma paisagem de 1948 e desde então gosto de pensar que esse é o lugar onde existiu a fazenda do papai.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Dia dos Pais
O Meu Pai Marinheiro de Minas Gerais
Capítulo I

Marinheiro, palavra da língua portuguesa traduzida do grego Pelagio; o  homem que veio do mar.
É claro que em Minas Gerais, em Guaranésia para ser mais precisa, não existe mar. Então quis o destino que o meu pai Pelagio viesse morar nesta bela cidade praiana, Santos.
Ele já se foi há bastante tempo, então não pude estar com ele no Dia dos Pais. Mas ele está comigo sempre, aqui dentro do meu coração e na minha memória.

Para começar, vou contar duas ou três Felicidades que ele me proporcionou:

O enorme embrulho de papel celofane transparente! 
Quando entrei na sala e vi que o Papai Noel me trouxe o que eu pedi fiquei tão feliz que eu podia voar! A emoção de ganhar o meu presente, depois de um ano inteirinho me comportando bem, a minha Bicicleta!  Triciclo ficou sendo coisa de menina pequena, eu agora era grande e podia andar sobre as duas rodas da magrela e mais duas rodinhas até aprender a pedalar! 

Uma caixa de papelão que se mexe!
Tinha um buraco redondo na parte de cima e quando abri nem acreditei, era o cachorrinho que eu tanto queria! Fulvo! Dourado! Trazia um laço vermelho ao pescoço, se chamava Johnny de Iguaçu e aprendeu a ser criança como a gente. 

Galope de automóvel!
Papai enchia a caçamba da perua GMC de crianças, primos, vizinhos e mais o Johnny e nos levava a passear de carro pelas ruas de areia da Ponta da Praia. Enquanto o carro passava, ou melhor, voava sobre as irregularidades do terreno, éramos jogados para o alto e depois para o chão da caçamba! Gritaria geral de alegria, menos o Johnny que era a favor do mutismo. Latir só em último caso! Depois teve o jeep-Willys amarelo que também fez o maior sucesso entre a criançada.

Os olhos maiores que a barriga!  
Elefantes, camelos, porquinhos, pintinhos, maçãzinhas, perinhas, e outras maravilhas de marzipan da Kopenhagen que ele trazia da cidade depois do trabalho. Eu dividia o conteúdo da caixa com a minha irmã mais nova de tal maneira que sempre eram dois pra mim um pra ela; mas logo eu enjoava dos doces e acabava dando praticamente a caixa toda para ela!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A minha Mãe Britânica                                        Lembranças de Georgetown

Capítulo I

Nasceu em 1927, no Public Hospital, em Georgetown, Guiana Inglesa, uma menina chamada Mary Clothilde. Viveu lá até os cinco anos de idade quando se mudou com a família para o Brasil.  

Era a caçula de três irmãs. A mais velha, Elvira, detestava o próprio nome. Um belo dia se apropriou do nome Mary e deu o nome de Maisie para a Mary; então a Elvira passou a se chamar Mary e a Mary Maisie. Tudo bem resolvido.

Mamãe Celeste, apesar de descendente de portugueses, só falava inglês e também francês. Papai Francis falava português de Portugal e inglês.

A casa onde moravam era imensa. Ainda mais para uma criança pequena. 
A mesa de jantar dava para dezoito pessoas ou mais.

A casa era palafita. Para evitar a maré cheia,  já que Georgetown está abaixo do nível do mar.

Depois do banho, Babi, a babá, costumava vestir Maisie com vestidos muito bonitos, cheio de laços, fitas e rendas. Mas a menina corria a se esconder por baixo da casa para brincar na areia e voltava sempre suja. Aí era banho de novo e para que sossegasse era amarrada a uma cadeirinha.

Maisie era linda, parecia uma boneca, narizinho arrebitado, olhos castanho escuros e cabelos escuros levemente ondulados nas pontas. Falando nisso, ela não gostava nem um pouco das bonecas de louça das irmãs. Na escada entre o andar térreo e o superior havia um pequeno hall e nele uma casa de bonecas tão grande que elas brincavam dentro. Era mobiliada e as meninas se divertiam por muito tempo por ali. Menos ela que arrancava a cabeça e os olhinhos de vidro das pobrezinhas quando não havia ninguém por perto.

A avó Maria tinha na despensa dezenas de bolos que iam sendo comidos durante o mês e Maisie comia muitos quando ficava de castigo lá por mau comportamento. 

O avô Eduardo estava gagá. O velho morreu com cento e quatro ou cento e seis anos de idade. Costumava urinar nas plantas do jardim. Espantava a criançada estalando com toda a força um lenço molhado e bem torcido nas pernas de quem se aproximasse. 
Era português, diziam que era nobre e que lecionou na Universidade de Coimbra. Era geógrafo, fazia mapas, era matemático. Estava sempre muito bem trajado e usava luvas brancas para cumprimentar as pessoas. Monárquico, teve que fugir de Portugal quando foi proclamada a república em 1910. Existem algumas publicações dele na Biblioteca Nacional Portuguesa. Era sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa. 
Em Georgetown fundou e dirigiu o Portuguese College onde os alunos aprendiam em português e em inglês e foi uma escola profissionalizante. Mas esses detalhes a minha mãe não tinha conhecimento por ser muito pequena ainda.








quarta-feira, 8 de agosto de 2012


 O avião que veio do mar

Nos idos de 1940 do século XX, aqui na cidade de Santos, o Colégio ”Stella Maris” era dirigido pelas Cônegas de Santo Agostinho. 

Entre elas haviam as freiras belgas e as holandesas. Durante a Segunda Grande Guerra Mundial a entrega das cartas e encomendas mandadas a elas pelos parentes do Velho Mundo fica praticamente interrompida.

Em 1945 é finalmente decretada a tão desejada Paz Mundial.

As alunas promovem campanhas de arrecadação de donativos para a o povo da Bélgica e da Holanda. Conseguem caixotes e mais caixotes, sucesso total! Mas de que modo transportar tudo isso para a Europa?

A Base Aérea cede um avião pequeno. A aeronave faz um sobrevoo curto sobre o Atlântico e aterrissa direto na areia da Praia do Boqueirão. É então empurrado da praia até o Colégio, no número 771 da Avenida Conselheiro Nébias.

Trânsito devidamente desviado para outras vias, as pessoas ao longo da avenida assistem ao improvável desfile, tornado possível graças à força do amor ao próximo que supera todas as barreiras. Após quase dois quilômetros de trajeto pela faixa central da avenida o avião chega ao seu destino. 

Impossível entrar pelo portão principal, feito para a passagem de automóveis, não de aviões. A solução encontrada e logo realizada foi a retirada das asas e assim, mais magrinho, segue para dentro do terreno da escola o veículo aéreo, momentaneamente transformado em veículo terrestre.


Empurrado através do pátio, manobrado por dentro da Sala Redonda, chega ao grande Salão de Festas, lotado de caixotes e de gente eufórica. 

As alunas pequenas, vestidas com suas fantasias de aviador, dançam e cantam em volta do belo, ainda que desasado, avião.